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30 de Abril de 2024

Vítima favoreceu a noiva - Jornal do Commercio (Cidades)

INFLUÊNCIA Polícia conclui que promotor ajudou a família de Mysheva a vencer a burocracia da Justiça em uma disputa por terras

O promotor Thiago Faria Soares foi executado, como concluiu a Polícia Civil, porque assumiu uma briga histórica e intensa por terras da família da mulher por quem se apaixonou e com quem pretendia se casar tendo apenas 11 meses de relacionamento. A briga não era dele, mas Thiago Faria a tomou para si. Com força, paixão e empenho, como costumava agir na vida, segundo afirmaram fontes ouvidas pelo JC. O promotor de Justiça não foi morto por ser um promotor ou estar atuando como um agente público em defesa dos interesses da sociedade. Pagou um preço alto por se envolver em questões pessoais, fazendo uso do conhecimento que possuía do direito e de como vencer os obstáculos comuns à lenta e burocrática Justiça brasileira. Mas de forma alguma será julgado ou ao menos criticado por isso. Até porque já pagou com a própria vida. Essa é a leitura da cúpula da segurança pública pernambucana, responsável pela investigação sobre a morte do promotor, e, principalmente, do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), instituição a qual pertencia.

Ontem, durante a coletiva da Secretaria de Defesa Social (SDS) para esclarecer detalhes e informar sobre os mandantes e executores do crime, inclusive com a presença do procurador-geral de Justiça de Pernambuco, Aguinaldo Fenelon, o envolvimento pessoal de Thiago Faria foi confirmado por todos. Mas, ao mesmo tempo, os presentes insistiram na tese de que a execução de um promotor, em exercício ou não da função, representa uma ousadia, que exige respostas imediatas. "Independentemente da causa, matar um promotor de Justiça é uma afronta ao estado democrático de direito. Ainda mais no caso de Thiago, um jovem puro de alma, empolgado com a nova função e com a vida pela frente. Não importa se ele se envolveu em todo o processo pela noiva. O que importa é que estava defendendo o certo", afirmou Aguinaldo Fenelon.

Questionado se o promotor poderia ter usado de sua influência profissional para agilizar a disputa pelas terras em favor da noiva, o procurador-geral disse que ele não deveria ter agido dessa forma, mas que já pagou um preço alto por isso. "Thiago Faria não fez nada ilegal, é preciso deixar isso claro. Ao contrário. Alegou ser suspeito para atuar como promotor em 16 processos na Comarca de Itaíba, onde era titular. Exatamente porque tinham algum tipo de ligação com a família da noiva. Diante desse cenário, decidimos transferí-lo para a Comarca de Jupi, onde assumiria a partir do próximo mês", explicou Aguinaldo Fenelon.

Em janeiro passado, quando conheceu a noiva, a advogada Mysheva Freire Ferrão Martins, ela já tinha conseguido arrematar num leilão os 25 hectares da Fazenda Nova, alvo de um espólio. O arremate se deu em outubro de 2012, mas o posseiro, o fazendeiro José Maria Pedro Rosendo Barbosa, permanecia nas terras. Somente em junho último, com a interferência do promotor, a imissão de posse foi dada pela Justiça e o fazendeiro teve que deixar as terras. Além disso, Thiago Faria chegou a fotografar pessoalmente crimes ambientais praticados pelo fazendeiro para anexar as provas aos autos de um processo de reintegração de posse movido pela noiva.

SEGURANÇA

O MPPE passou o dia de ontem recebendo manifestações de pesar pela trágica morte do promotor Thiago Faria. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu total apoio ao MPPE no início das investigações designando três procuradores regionais da República para acompanhar os trabalhos. À tarde, em reunião com promotores de Justiça de várias regiões do Brasil, foram definidas algumas ações de fortalecimento da atuação institucional do MPPE nos municípios de Águas Belas e Itaíba, como também estratégias de investigação para elucidar o crime.

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Suspeitos circulavam livremente na cidade

Homens diretamente ligados ao crime de roubo e pistolagem, inclusive relacionados a grupos de extermínio, procurados pela Justiça, mas que circulavam livres, sem sofrer qualquer tipo de ameaça. Esse é o perfil dos dois principais suspeitos de assassinar o promotor de Justiça Thiago Faria Soares, segundo informações levantadas pela polícia pernambucana. Não só o fazendeiro José Maria Pedro Rosendo Barbosa, suposto mandante do homicídio, é acusado de crimes graves. O suposto autor dos disparos que mataram o promotor, o agricultor Edmacy Cruz Ubirajara,também tem uma longa ficha criminal.

Edmacy tinha dois mandados de prisão por roubo expedidos pela Justiça em 1996 e 2000 e, mesmo assim, vivia tranquilamente entre as cidades de Águas Belas e Itaíba. Foi preso por causa de um dos mandados. Agora também possui uma prisão temporária de 30 dias pela suposta participação na morte do promotor. Já o suspeito de ser o mandante da execução de Thiago Faria Soares, José Maria de Mané Pedo, como é chamado, é velho conhecido na região pelos problemas com a polícia. Foi acusado há 20 anos de promover um atentado contra um prefeito de Águas Belas, quando dois policiais militares morreram e outros dois ficaram feridos.

Em 1990, Zé Maria teria liderado um atentado contra o então prefeito Hildebrando Albuquerque e seu irmão Hiberlúcio. Na ação criminosa, dois PMs foram mortos e outros dois se feriram, mas o político e seu irmão sobreviveram. O crime ocorreu na BR-423, na altura da Serra dos Ventos. O fato de os assassinos do promotor Thiago Faria Soares terem uma ficha criminal extensa criou um leve atrito, mais uma vez, entre o MPPE e a SDS. Aguinaldo Fenelon, procurador-geral, lamentou o fato de ao menos um dos acusados ter mandado de prisão expedido pela Justiça e não estar atrás das grades. "O MPPE não tem como interferir, mas é lamentável porque poderíamos ter agido preventivamente. Infelizmente não foi possível evitar a morte do promotor", concluiu.

TESTEMUNHAS

A Polícia Civil está preservando a identidade de duas testemunhas da morte de Thiago Faria, uma delas ocular. Um leiteiro que passava pela PE-300 no momento do crime assistiu à execução. A segunda testemunha seria um homem que acompanhou uma reunião na qual o fazendeiro teria acertado a morte do promotor.

Abuso de atribuição e ingenuidade

O promotor Thiago Faria teria agido além das suas atribuições no caso da reintegração de posse de parte de uma fazenda, arrematada em um leilão pela noiva, a advogada Mysheva Martins. Nos corredores do Ministério Público do Estado, comenta-se o fato de Faria estar há tão pouco tempo no órgão - ele tomou posse em dezembro do ano passado - e supostamente já ter se envolvido em um caso tão complicado. Entre os promotores, a versão é que Thiago teria agido de forma inocente ao mergulhar nos interesses da família da noiva. Ou então, ele teria subestimado o perigo que corria. A região onde aconteceu o assassinato é famosa pela violência, principalmente devido aos crimes de pistolagem. Ele estaria deslumbrado com o início da carreira e com o poder que um promotor de Justiça detém em uma cidade pequena.

Thiago Faria era conhecido, também, pelo seu temperamento de carência afetiva e por ter breves, porém intensos, relacionamentos. Tanto que, poucos meses depois que começou a namorar Mysheva, ficaram noivos. A paixão que sentiu pela jovem poderia tê-lo levado a agir além das suas atribuições. Thiago teria usado seus conhecimentos jurídicos para agilizar a reintegração de posse das terras.

Para o presidente da Associação do Ministério Público de Pernambuco (AMPPE), Vladimir Acioli, Thiago Faria não se envolveu judicialmente na reintegração de posse das terras. "Os fatos ocorreram fora da comarca em que ele atuava e, por isso, não poderia influenciar diretamente no caso. Ele era um promotor com uma ficha funcional exemplar, não tinha nenhuma representação contra ele nem respondeu a investigação administrativa", disse. Acioli acrescentou que Thiago Faria chegou a pedir afastamento dos casos de interesse da família da noiva. "A lei exige que o promotor se afaste. Ele não deu parecer. O mandado de emissão de posse da terra foi feito pela Justiça do Trabalho. Ele não teria como atuar", completou.

Sobre o fato de Faria ter sido visto fazendo fotos de um possível crime ambiental em outra área da fazenda, Acioli explicou que ele estaria atuando como cidadão. "Ele não estava atuando como promotor, já que a propriedade fica em Águas Belas e ele era da comarca de Itaíba. Não vejo nenhum problema nisso, qualquer pessoa pode denunciar um crime", declarou.

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2 Comentários

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Lamentável tanta violência e mais uma vez a cultura do coronelismo no interior do Estado de Pernambuco. Sou servidora do MPPE, e o sentimento que fica é de indignação, como cidadã, vejo, perplexa, versões da história que imputam à vítima a responsabilidade pela sua morte, e vejo a precipitação da mídia que precisa de um furo de reportagem, em realizar um julgamento público e sem direito de defesa, em claro desrespeito à memória da vítima e à sua família. Li reportagens em outros meios de comunicação, más colocadas e nada elucidativas, parabenizo o site por essa cobertura e pela responsabilidade e respeito com que expõe o assunto.
Mais do que justiça, a esperança é que haja mudança de cultura da cultura da violência e da impunidade. continuar lendo

Minha nobre Alexandra Ferreira, concordo com seu comentário, bem feito e explicado.. continuar lendo