Suspeito tem ficha criminal extensa - Jornal do Commercio (Cidades)

PROBLEMAS TJPE registra quatro ações penais contra Zé Maria, acusado de tentar matar um prefeito de Itaíba em 1993

O principal suspeito de ser o mandante da execução do promotor Thiago Faria Soares tem um histórico de problemas na região. José Maria Pedro Rosendo Barbosa foi acusado, duas décadas atrás, de promover um atentado contra um prefeito de Águas Belas. No episódio, dois policiais militares morreram e outros dois ficaram feridos. De acordo com parentes de Zé Maria de Mané Pedro, como o antigo posseiro da Fazenda Nova também é conhecido na região, ele acabou inocentado no caso por falta de provas.

Levantamento da Delegacia de Águas Belas dá conta de que, em 1990, Zé Maria teria liderado um atentado contra o então prefeito Hildebrando Albuquerque e seu irmão Hiberlúcio. Na ação criminosa, dois PMs foram mortos e outros dois se feriram, mas o político e seu irmão sobreviveram. O crime ocorreu na BR-423, na altura da Serra dos Ventos.

Durante a fuga, os bandidos, que pertenciam a uma gangue fixada em Alagoas, abandonaram o veículo utilizado na abordagem. Dentro do carro a polícia encontrou a carteira de identidade de Everaldo dos Santos, pai de Eloá Cristina Pimentel, 15 anos, morta no dia 18 de outubro de 2008 pelo namorado, Lindemberg Fernandes, em Santo André (SP). Santos era integrante da Gangue Fardada, grupo de extermínio que atuou em Alagoas na década de 90.

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) informou que existem quatro ações penais em que o nome de José Maria Pedro Rosendo Barbosa aparece como réu. Duas são em varas criminais de Garanhuns e Vitória de Santo Antão.

A manhã de ontem foi de intensa movimentação na frente da casa onde moravam o promotor Thiago Faria Soares e sua noiva, Mysheva Martins. Parentes e amigos do casal fizeram campana na residência. Todos estavam abalados e incrédulos com a morte de Thiago Faria, ex-professor consagrado de cursos preparatórios para concursos.

Mysheva deixou o local por volta das 10h para ir ao sepultamento do noivo. Antes, fez exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal (IML) do Recife por conta das escoriações que sofreu ao se jogar do carro. Familiares disseram que este seria o último mês de Faria atuando no Fórum de Itaíba. A partir do mês que vem, após o casamento com Mysheva, ele assumiria o Fórum de Iati, na região.

SUSPEITO

O agricultor Edmacy Ubirajara, 47 anos, cunhado de Zé, Maria compareceu no final da tarde de ontem à Delegacia de Águas Belas para depor. Mais cedo, policiais estiveram na casa dele, no povoado de Santa Rosa, na zona rural de Iati, mas Edmacy fugiu. Horas depois, avisou que prestaria depoimento. À noite, a força-tarefa conduziu Edmacy por ruas de Águas Belas para que mostrasse por onde andou no dia do crime. Ele voltou à delegacia algemado. O motivo da detenção seria mandado de prisão de 1996, não relacionado com o caso atual.

Também ontem, o automóvel do promotor foi periciado em Caruaru.

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"Não deu para ver muita coisa. Foi chuva de bala"

JORNAL DO COMMERCIO - Como foi o momento do atentado contra o carro em que vocês estavam?

ADALTIVO ELIAS MARTINS - Eu estava no banco de trás. A gente vinha conversando normalmente e só escutei os tiros. Não deu para ver muita coisa. De repente, foi chuva de bala. Thiago era uma boa pessoa. Eu gostava dele.

JC - Qual foi sua primeira reação depois dos disparos?

ADALTIVO - Na hora, eu me abaixei e saí do carro pelo outro lado. Saí caminhando e desci o barranco perto da estrada.

JC - Mysheva estava com o senhor no momento da fuga?

ADALTIVO - Sim. A gente saiu junto.

JC - Chegou a haver algum diálogo ou os criminosos já chegaram atirando?

ADALTIVO - Não falaram nada. Foi só tiro.

JC - Por que o senhor estava no carro com eles?

ADALTIVO - Eu estava pegando carona com minha sobrinha. Eu moro em Águas Belas e iria visitar uns parentes meus em Itaíba. Aproveitei que eles estavam indo para lá também e fui com eles para Itaíba.

Mutirão do Ministério Público

Pernambuco recebeu, ontem, um mutirão de conselheiros, procuradores e promotores de Justiça de todo o Brasil, interessados na investigação sobre a morte do promotor de Justiça de Itaíba Thiago Faria Soares. Mais de 15 profissionais chegaram ao Estado durante toda a tarde. Depois de se reunir com o procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, eles estiveram com o governador Eduardo Campos. Participaram do encontro, ainda, o secretário de Defesa Social (SDS), Wilson Damázio, e o secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar.

No velório do promotor, o presidente do Grupo Nacional de Combate às Organizações Criminosas (GNCOC) do Ministério Público, Heverton Alves, também procurador-geral de Justiça de Rondônia, evitou comentar a participação de Thiago Faria no processo de reintegração de posse de terra que pode ter sido a causa do crime. "Nesse momento é extremamente prematuro falar sobre essa relação. A investigação está sendo feita pela polícia e é preciso aguardar. Só depois que o trabalho for concluído e os assassinos presos é que poderemos comentar o contexto da participação do promotor", disse Alves.

Para a maioria dos colegas de profissão de Thiago Faria, entretanto, o crime foi uma clara afronta ao Ministério Público e ao estado democrático de direito. "O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) está atento às investigações, tendo em vista sua missão constitucional de defesa da independência funcional e da livre atuação dos membros do Ministério Público", afirmou o conselheiro do CNMP Mario Bonsaglia, corregedor nacional em exercício.