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26 de Abril de 2024

Assassinato do promotor Thiago Faria: Estado promete resposta rápida

O assassinato de um promotor em uma estrada na violenta região de Itaíba, no Agreste Meridional, provocou uma reação das autoridades à altura da brutalidade do crime. Cinquenta policiais comandados por três procuradores da República e dois membros do Conselho Nacional do Ministério Público Federal vão tentar descobrir quem disparou os quatro tiros de espingarda calibre 12 que mataram Thiago Faria Soares, 36 anos, às 9h de ontem, na PE-300, entre Águas Belas e Itaíba, onde atuava desde janeiro. A polícia já tem uma linha principal de investigação. Mas não antecipou o que teria motivado o assassinato. Informações extraoficiais dão conta de que um conflito agrário está na raiz da execução. A noiva do promotor, Mysheva Martins, e um tio dela estavam no veículo e escaparam ilesos.

SDS já tem linha de investigação

ITAÍBA Secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, informou que há suspeitos da execução do promotor Thiago Faria Soares e que dará resposta rápida para a sociedade

A polícia já tem uma linha de investigação para o assassinato do promotor Thiago Faria Soares, 36 anos, ocorrido na manhã de ontem por volta das 9h, na PE-300, entre Itaíba e Águas Belas, onde ele morava. Segundo o secretário de Defesa Social, Wilson Damázio, o promotor foi seguido por um Uno preto. Um dos ocupantes do veículo atirou e o carro parou no acostamento. Em seguida, foram desferidos mais três tiros que o mataram. Cerca de 20 disparos foram efetuados ao todo. A perícia apontou que a arma usada no crime foi uma espingarda calibre 12.

Os quatro tiros atingiram a cabeça e pescoço do promotor. A noiva de Thiago, Mysheva Freire Ferrão Martins, e o tio dela, Adautivo Elias Martins, que estavam no carro, não foram atingidos. Na noite de ontem, foi realizada uma reunião na sede provisória do governo, no Centro de Convenções, com o governador Eduardo Campos (PSB), o procurador-geral do Estado, Aguinaldo Fenelon, e o secretário Wilson Damázio.

"Temos suspeitos do crime, estamos fazendo investigações e em pouco tempo daremos a resposta que o caso requer", disse Damázio, acrescentando que já foram expedidos mandados de prisão. O secretário informou, ainda, que já tem uma linha principal de investigação, mas que não iria divulgar para não atrapalhar a apuração do caso.

Cerca de 50 policiais estão envolvidos na investigação. O helicóptero da SDS também está dando apoio. Durante a reunião, Eduardo Campos entrou em contato com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que designou três procuradores e dois conselheiros para atuarem em conjunto com a polícia pernambucana nas investigações. O grupo chega no final da manhã ao Recife e deve se reunir com Fenelon e Damázio. Na noite de ontem, o corpo do promotor foi trazido ao Recife para ser necropsiado no Instituto de Medicina Legal. Em seguida, seria levado a Águas Belas.

"Estamos pegando o que temos de mais experiência e competência para ir de forma rápida e segura à solução do crime", disse o governador. "Os procuradores têm experiência na área criminal. Existe um grupo nacional de combate ao crime, que já foi acionado", acrescentou Fenelon. O procurador-geral informou, ainda, que conversou com a noiva de Faria. "Ela deu informações muito importantes, mas não podemos repassá-las, pois podem ajudar a elucidar o crime", explicou. Fenelon disse que o promotor Thiago Faria não comunicou nenhum tipo de ameaça que estivesse sofrendo.

Segundo o secretário Wilson Damázio, pelo menos duas pessoas participaram do crime. "Como ele foi seguido em um carro, uma pessoa estava dirigindo e outra atirou", explicou. Damázio acredita que, apesar de outras pessoas estarem no veículo, o alvo do crime era apenas o promotor. "Os executores tiveram a oportunidade de matar as outras pessoas e não fizeram porque não quiseram", detalhou.

As investigações apontam que os disparos foram feitos por um dos homens, que se aproximou do veículo do promotor e atirou. O promotor atuava no Fórum de Itaíba, para onde se dirigia quando foi morto. Os tiros atingiram as laterais e a frente do veículo, um Hyundai Vera Cruz, que ficou bastante danificado. Um policial militar acrescentou que o corpo do promotor ficou desfigurado.

FUGA

Segundo o delegado Antônio Júnior, a noiva do promotor conseguiu pular do carro. Ela sofreu apenas escoriações. O tio dela se abaixou no banco de trás e também não se feriu. Mysheva Martins mora em Águas Belas e trabalha em Itaíba. Ela é parente do prefeito da cidade, Juliano Martins (PSDB), e do irmão dele, o deputado estadual Claudiano Martins (PSDB).

O procurador-geral Aguinaldo Fenelon esteve no local do crime na manhã de ontem para acompanhar o início das investigações.

(conteúdo vinculado)

Conflito agrário pode ser motivo

Uma das hipóteses levantadas para a execução do promotor Thiago Faria Soares é o fato de ele ter se envolvido em um processo de reintegração de posse na região para defender os interesses da família da noiva. A atuação do carioca teria desagradado os posseiros, que acabaram expulsos do local onde viviam havia anos. Ele chegou a ser advertido pela Corregedoria Geral do Ministério Público de Pernambuco, que temia pela segurança do servidor.

A Polícia Civil afirma que não descarta nenhuma possibilidade, mas não citou nenhuma linha específica de investigação.

Informações extraoficiais de fontes ligadas ao Ministério Público dão conta de que Thiago Faria, que atuava nos municípios vizinhos de Itaíba e Águas Belas, teria sido removido compulsoriamente de Águas Belas por conta da investigação. O promotor ganhou fama nacional como professor de cursos preparatórios para concursos.

Ainda segundo fontes do do MP, ele havia sido avisado sobre o problema. "Não era uma punição, mas uma forma de preservá-lo. A situação dele estava complicada lá", disse uma das pessoas ouvidas pelo JC. Apesar do conflito de terra, ao menos oficialmente ele não tinha reportado nenhuma ameaça sofrida por parte de algum sem-terra.

Outra hipótese diz respeito a um problema de cunho particular, envolvendo dinheiro e sem qualquer relação com a família de sua noiva ou com sua atuação como promotor.

Na noite de ontem, um homem teria sido detido e levado para prestar depoimento na Delegacia de Águas Belas. A polícia não confirmou a informação.

Thiago morava no Estado desde 2005

O carioca Thiago Faria Soares, 36 anos, era graduado em direito pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em direito privado. Morava desde 2005 em Pernambuco, onde atuou como professor em diversos cursos preparatórios para concursos, como o Complexo de Ensino Renato Saraiva (CERS), reputado como a maior instituição de ensino a distância do Brasil, além de Espaço Jurídico e ATF Cursos Jurídicos.

Era conhecido inicialmente como Thiago Godoy, sobrenome de sua primeira esposa. Quando se divorciou, em 2011, passou a ser chamado pelos alunos de Thiago Faria. Consagrou-se como professor de direito civil, sendo reconhecido nacionalmente por suas aulas.

Além da carreira como docente, que o fez ser professor convidado do programa Saber Direito, da TV Justiça, Thiago Faria é autor de dezenas de artigos que foram publicados em revistas jurídicas especializadas e escreveu diversos livros jurídicos, como as recentes obras Saberes do Direito 17 - Direito Civil 3 e Passe na OAB - 2ª Fase - Teoria & Modelos - Civil, ambos publicadas pela Editora Saraiva. Seus livros servem de base para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e para vários concursos.

Aprovado no último concurso para o Ministério Público, em 2008, ele foi nomeado promotor de Justiça em 30 de novembro do ano passado e assumiu o cargo em dezembro. Tinha uma irmã um ano mais velha e era filho de pais divorciados. De acordo com informações de um amigo próximo, Thiago Faria não falava com o pai. O carioca não tinha parentes residindo em Pernambuco, apenas a ex-mulher, Aline Godoy. Antes de conhecer a atual noiva, ele teve outras duas namoradas e noivou com ambas. "Era assim mesmo, muito passional", disse.

Casamento estava marcado para dia 1º

A advogada Mysheva Freire Ferrão Martins conheceu o carioca Thiago Faria Soares em Águas Belas, município vizinho a Itaíba, onde ele atuava como promotor desde dezembro do ano passado. Pertencente a uma família tradicional e que domina politicamente a região, a jovem iniciou o curso de direito na Universidade Salgado de Oliveira (Universo), mas se formou na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).

Eles tinham casamento marcado para o próximo dia 1º de novembro. Em sua foto de perfil no Facebook, Mysheva aparece sorrindo ao lado de Thiago Faria, de quem ficou noiva em junho. Em postagem sobre o noivado na mesma rede social, o promotor afirmou: "Início de uma família! Momento mais feliz da minha vida até hoje, mas completo mesmo só com o casamento e com os filhos, que logo virão, se Deus abençoar".

Amigos do casal ouvidos pela reportagem disseram que não havia nenhum relato de eventuais problemas entre o casal. "Era um relacionamento recente, mas intenso. Ele era meu amigo desde 2008. Demos aula juntos. Por coincidência, ela foi minha aluna na Universo. Há mais ou menos um mês, Thiago me telefonou para falar do noivado com Mysheva e para dizer que descobriu que eu tinha sido professor dela. Ele estava empolgado com o casamento", relatou o dono do ATF Cursos Jurídicos, Mozart Borba.

Os conhecidos se dividem quando o assunto é o que teria motivado o crime: parte acredita que o homicídio está relacionado à atuação do promotor e parte não descarta a possibilidade de crime passional.

Cidade é pobre e tem fama de ser violenta

Com 26 mil habitantes, Itaíba é uma cidade famosa pela violência, principalmente devido aos crimes de pistolagem. Ontem, o clima na cidade mais uma vez ficou tenso, com o assassinato do promotor Thiago Faria Soares. O movimento de carros do Ministério Público e da polícia foi intenso durante todo o dia. Além da violência, o município é conhecido também pela pobreza, com um dos piores indicadores da educação no Estado e Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) de apenas 0,510, um dos mais baixos de Pernambuco e do Brasil.

Em 2010, apenas 19,45% da população de 18 anos ou mais de idade tinha completado o ensino fundamental e somente 10,93% o ensino médio. As péssimas condições da infraestrutura seria uma das razões para a violência que impera na cidade.Citada na Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou os crimes de pistolagem em 2000, pelo menos três grupos com cerca de 150 integrantes e envolvimento de políticos, agiriam na cidade. Os grupos seriam responsáveis por crimes como assaltos a bancos e a carros-fortes.

Ontem, apesar da morte do promotor, o fórum da cidade estava aberto e serviu de local para reuniões entre promotores e delegados. A segurança na cidade foi reforçada e policiais de grupos especiais faziam diligências para tentar prender os suspeitos de terem assassinado Thiago Faria.

ENTERRO

Apesar de não ser natural de Pernambuco, o promotor, que nasceu no Rio de Janeiro, será enterrado no cemitério de Águas Belas, município vizinho a Itaíba e onde morava a noiva de Thiago, Mysheva Freire. A decisão foi acertada com a família do promotor pelo fato dele morar e trabalhar no Estado desde 2005 e ter estabelecido relações de amizade na região. Ontem à noite, um tio e uma irmã da vítima desembarcaram no Aeroporto Intenacional do Recife. Os dois devem acompanhar o enterro, marcado para as 15h30.

O corpo do promotor foi levado para o Instituto de Medicina Legal (IML) de Caruaru. À noite foi transferido para o IML do Recife, de onde deve ser liberado no início da manhã de hoje para seguir para Águas Belas.

"Não imagino o que aconteceu"

JORNAL DO COMMERCIO - O senhor acha que a morte do promotor está relacionada à atividade que ele desempenhava?

CLAUDIANO MARTINS FILHO - Não, não acho que esteja relacionada.

JC - Por quê?

MARTINS - Ele era muito amigo de todo mundo. A população toda gostava dele. Ele era bem visto tanto de um lado (político) quanto de outro.

JC - Mas a região de Itaíba tem um histórico de violência...

MARTINS - Faz um ano que não acontece nenhum homicídio lá, segundo a Secretaria de Defesa Social.

JC - Se a causa não estiver relacionada a nenhum caso no qual o promotor estava atuando, o que pode ter motivado o crime?

MARTINS - Não sei. A polícia está investigando. Espero que identifique os responsáveis.

JC - E quanto à sua prima Mysheva Martins? Ela tinha pretensões políticas?

MARTINS - Não. De forma alguma.

JC - Como já houve muitos conflitos políticos na região e o senhor não acredita que a atuação do promotor tenha motivado o crime, ela poderia ser o alvo dos criminosos?

MARTINS - Não acredito nisso.

JC - Então, quem seria o alvo?

MARTINS - Nenhum dos dois. Estou surpreso. Não imagino o que pode ter acontecido.

NA WEB

Paulo Queiroz

O que falar de um professor que tinha um sonho de promotor de Justiça? Me recordo do dia em que o professor Thiago Faria não conseguiu dar aula e pediu desculpa pela morte do seu cachorrinho, que era fiel companheiro de longas datas. Poxa, dia triste, principalmente pela pessoa querida e tranquila que era. Não aguento mais violência.

Geovane Moraes

Hoje perdemos um amigo. Parceiro de longa data, que fez do estudo e da perseverança, o caminho para a realização de um sonho. E que, ao longo da jornada, ajudou milhares de outras pessoas a também concretizarem seus objetivos.

Germanna Andrade É um absurdo!! Thiago era gente boa demais!! Sempre acessível... Adorava as injeções de ânimo que ele dava na gente! Sempre foi um cara que correu atrás do seu sonho e nos incentivava a fazer isso... Triste demais!! Não aguento mais violência!!

Ito

Águas Belas, cidade muito perigosa. Trabalhei na área de saúde por 20 anos nesta cidade e tinha medo. Lamentável e triste o assassinato covarde deste jovem promotor público.

Eduardo Buarque de Holanda

Mais um promotor morto. A pessoa estuda para o concurso três anos e mais três para ser chamado e, com alguns meses de função, morre. Qual motivação ser promotor? Estudar e morrer?

Eduardo, os índices de criminalidade não haviam despencado na sua propaganda teletubbies? Mataram um promotor com 20 tiros, o cara não tinha nem um ano no cargo. Espero que a morte dele não fique em branco!

Motinha

Terra de ninguém, quem será a próxima vitima? Lamentável... Até promotores?!!!.

Heitor Bastos

Violência é apenas mais um tema que não é tratado a sério neste País. Lamentável a morte desse promotor, mas o tratamento do Estado sobre crimes deve ser igual para todos.

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/assassinato-do-promotor-thiago-faria-estado-promete-resposta-rapida/111941024

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Lamentável o ocorrido.
À família, meus sentimentos .
Mas, que pena que todos os crimes no Brasil não são tratados/investigados dessa forma, com esse empenho.
Penso, que isso é reflexo da desatenção das autoridades com o que de fato interessa, que é cuidar da população em todos os seus aspectos. Digo isso, porque vemos todos os dias noticias de escândalos, o que me certifica que a atenção deles esta toda voltada ao jogo politico de seu dia a dia, em seu interesse. continuar lendo

Concordo contigo. Fico impressionado com a forma a qual o editor desta reportagem se expressa: "reação das autoridades à altura da brutalidade do crime". Já vimos brutalidades bem maiores, mas não tem o mesmo grau de indignidade por parte deles mesmos, os promotores, que deveriam fazer justiça de verdade. continuar lendo

É lamentável o assassinato como qualquer um outro.
Só que aí é briga de gigantes e o encontro é do leão e do guepardo e quando alguém molesta seu harém o leão levanta, ruge e bate em ataque e nem o guepardo consegue distância.
Quanto a nós, grande maioria, resta o consolo de participar a distância do duelo. continuar lendo

Pela experiência que tive em morar em diversas cidades do Brasil, constatei que existem dois "Brasis"; um no sul-sudeste e outro no norte-nordeste (o centro-oeste é a mistura dos dois). Neste último "Brasil", principalmente em cidades do interior, o Estado é ineficiente em todos os setores. A polícia não tem condições de investigar quase nada; promotores e juízes quase ausentes, pois se ligam mais às capitais. Conclusão: quem manda são os "coronéis", que agora, no estágio atual, são políticos, na maioria das vezes prefeitos ou presidente da Câmara de Vereadores. Geralmente são as pessoas mais ricas da região onde tem uma grande população de pobres e miseráveis. São os proprietários não só fazendas e vastas terras, mas, também, de empresas de transporte, construção civil, supermercados, comércios em geral. A população destas cidade, em geral, lhes devem o emprego, ou na prefeitura ou em qualquer destas empresas. Em troca, o novo "coronel" tem o poder político. Com certeza, este promotor mexeu com esta gente, que se julga acima do bem e do mal. Mas, agora, quem foi desafiado foi o Estado e não um cidadão comum (para este, infelizmente, jamais iria esta "romaria" de autoridades ao local), por isto, a resposta tem que ser dada, custe o que custar. continuar lendo

O Ministério Público é o defensor natural da sociedade, fazendo com que a Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988 o declare como “instituição permanente e essencial à função jurídica do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. Portanto uma agressão dessa monta a qualquer de seus membros no desempenho de suas funções é um ataque frontal à Democracia. continuar lendo